O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) divulgou, no último dia de março, um extenso relatório que, segundo o órgão, apresentava uma radiografia dos países que impõem barreiras à entrada de produtos norte-americanos. O Brasil foi incluído entre as nações que dificultam a inserção de produtos estadunidenses em diversos setores.
O documento apontava tarifas de importação elevadas no País nos segmentos de têxteis, vestuário, automóveis, peças automotivas, Tecnologia da Informação (TI), eletrônicos, maquinário industrial e aço, entre outros. Embora o relatório reconheça avanços na transparência do mercado de compras brasileiro, o tom geral era negativo, destacando a imprevisibilidade, as restrições e a preferência por produção doméstica como pontos críticos.
O relatório também abordava questões sensíveis na relação comercial entre ambos os países, como as barreiras nacionais ao etanol, tributos sobre o setor audiovisual, restrições nas compras governamentais para empresas estrangeiras e políticas rigorosas de proteção intelectual. Apesar disso, o Brasil, ao lado da Grã-Bretanha, foi um dos países menos afetados, com sobretaxas fixadas em 10% — em contraste, a China sofrerá sobretaxas de 34%; a União Europeia, de 20%; e o Japão, de 24%.
Fato é que essas políticas protecionistas adotadas pelo governo de Donald Trump podem prejudicar a economia dos Estados Unidos, não apenas impondo custos aos países afetados, mas também impactando negativamente o próprio mercado interno norte-americano. Os benefícios do Comércio vêm sendo debatidos desde o século 19, quando David Ricardo apresentou a teoria das vantagens comparativas, em 1817. Segundo o economista britânico, as nações devem concentrar esforços na produção de bens em que tenham maior produtividade relativa, bem como aproveitar os menores custos de oportunidade e promover a troca de excedentes com outros países, beneficiando ambas as partes.
Embora a economia tenha se tornado mais complexa desde então, o princípio permanece relevante. Durante anos, os Estados Unidos usufruíram do excedente produtivo da China, mantendo taxas de desemprego baixas e inflação controlada. No entanto, essa dinâmica gerou um desequilíbrio, corrigido por um fluxo expressivo de capital financeiro para o país asiático, que chegou a deter mais de US$ 4 trilhões em títulos do governo norte-americano.
A população estadunidense tenderá a ser a primeira a sentir os efeitos negativos dessas políticas. O aumento de preços e custos pressionará a inflação e reduzirá a competitividade do país no mercado mundial. E ainda que o impacto dependa da intensidade das medidas adotadas, é difícil prever benefícios substanciais para os Estados Unidos.
Por outro lado, as tarifas impostas a China, Japão e União Europeia podem abrir oportunidades para o Brasil ampliar a participação nesses mercados. Firmar acordos bilaterais, reduzir tarifas e facilitar procedimentos aduaneiros são estratégias fundamentais para que o País aproveite uma janela única de expansão comercial. Vale lembrar aqui que as exportações brasileiras para os Estados Unidos correspondem a apenas 10% do total, enquanto para China e União Europeia representam cerca de 50%.